A noite passeia-se, impávida e serena, como que fazendo
troça de mim. Sabe que a procuro, que a desejo, mas que nunca será minha como
eu sou dela. Por isso pode dar-se ao luxo de agir assim comigo, como se todo o
tempo do mundo fosse dela como é.
Abomino-te, sabes? Pérfida como és, sabes perfeitamente que
estás condenada a morrer assim que o Sol nascer e nem assim deixas de me
encantar intensamente como se não houvesse amanhã!
Achas piada? Calculo que sim, que te rias desmesuradamente
somente porque sim, porque podes. Quantos somos? Ao menos fazes ideia do
tamanho do teu harém? Quantos ansiamos por que chegues só para te vermos partir
como se nunca tivesses existido?
Adormecido enquanto acordado vagueio por ti, descubro-te,
reencontro-te, reconheço-te e perco-te. Por vezes descubro-me em ti, outras vezes
perco-me ao descobrir-te. Maldito seja o teu encanto!
Porque não me levas de vez e deixas de atormentar-me?
Leva-me nos teus braços embalando-me como só tu sabes, levas? Faz-me voar montado
no Pégaso dos meus sonhos, calcorreando os teus negros prados de luar banhados para
depois me deixares cair ao som do vento numa canção de eterna saudade do devir.
E este é o meu fado: desejar-te para todo o sempre quando
sei que todo o teu sempre acaba já, até à próxima vez que me vieres desinquietar
no meu sossego com a tua melodia insidiosa.
Odeio-te tanto que te amo como nunca amei o Sol, apesar de
ele me aquecer nesta cruel sobrevivência por ti vivida. Só por ti…
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