Por razões padrinhais decidi
voltar a voar depois do início da pandemia. Pensei para mim: o que terá mudado
na aviação? Nos comportamentos das pessoas quando viajam? Nos procedimentos das
companhias?
Certamente que muito, pois o
mundo não poderá voltar a ser o mesmo depois da pandemia, certo? Pois…
Decido partir para o meu destino
na Ryanair. Ok, ok, caro leitor...eu sei que é começar logo a pedi-las, eu sei,
mas tenha complacência e resiliência (só este último ponto afastou logo os
médicos todos da leitura: “ten points”!).
A quem leu “ten points” com a voz
do Eládio Clímaco posso desde já sugerir um exame à próstata se for do sexo
masculino ou uma consulta pré-menopausa a quem for do sexo feminino. De nada!
Onde é que eu ia? Ah, a caminho
da ilha dos bravos, mais conhecida por ilha Terceira. Se algum dos leitores não
souber porque a ilha Terceira é a ilha dos bravos, não se preocupe. Quando a
visitar grite a plenos pulmões à saída do aeroporto das Lajes que São Miguel é
a melhor e mais bonita ilha dos Açores que rapidamente descobrirá!
Chego ao terminal 2 do aeroporto
de Lisboa, mais comummente conhecido como o terminal dos enjeitados ou terminal
das low-cost. Ok, terminal dos enjeitados fui eu que inventei agora, confesso!
Contudo, conforme perceberão nas linhas seguintes, é um terminal “especial”!
O terminal 2 quando for crescido
quer ser como o terminal 1, pelo que também tem um fast track para o raio-x.
Neste caso, o fast track permite passar à frente de cinco pessoas e meia, pelo
que o rácio custo/benefício é fantástico. Eu, sendo pobre e triste, não tinha
fast track, pelo que segui directamente para o raio-x. Já a única pessoa que ia
pelo fast track foi parada pelo segurança para confirmar se era portadora de
bilhete fast-track, pelo que ficou somente not so fast track. Idiossincracias!
Primeira constatação: nada mudou
no raio-x desde o início da pandemia. Os oficiais da coisa continuam
entusiasmados com a sua profissão, não perdendo uma oportunidade de o
demonstrar dizendo “neeext” sempre que a carneirada se atrasa.
A Ryanair mantém a sua política
de separar o embarque por prioridade e não prioridade, pelo que aqui volta a
haver segregação dos carneiros por carneiros de primeira e carneiros de
segunda. Desta vez o vosso escriba aqui ficou colocado na categoria de carneiro
de primeira, pelo que pode testemunhar o seguinte bem de perto.
A aeronave que nos transporta
chega 40min antes da hora de partida. Ora, dará 40min para desembarcar os
passageiros, reabastecer, limpar o avião, embarcar, fazer os procedimentos de
segurança e descolar?
Primeiro ponto: desembarque. O
dito cujo faz-se em cinco minutos. Três autocarros levam os desembarcados
rapidamente, ficando o reabastecimento a decorrer.
Segundo ponto: limpeza do avião.
As equipas precipitam-se para o interior do avião para proceder à desinfecção e
limpeza….aaahhhhh….apanhei-o caro leitor…não existem equipas de limpeza, nem
desinfecção do avião…quanto à “limpeza”, um saco preto de lixo ao início das
escadas traseiras denuncia o “acto”.
Faço um pequeno parêntesis para
abordar o fantástico tema de como passados dois anos ainda existem pessoas que
não sabem usar uma máscara! E assim se explicam tantas gravidezes
indesejadas!!!
Terceiro ponto: passaram 12min
entre a chegada do avião e eu estar a bordo dele. O restante embarque é feito
em oito minutos…a carneirada ainda não é rápida o suficiente, pelo que a
hospedeira italiana diz naquele inglês fantástico dos italianos: “Plize muve
alongue de áile end teique ior sit as quickli as póssible”. Quem leu isto com sotaque
do capitão Bertorelli do Allo Allo tem mesmo de marcar o seu exame à próstata
ou etc, etc!
Continuação do segundo ponto:
chegado ao meu lugar encontro um isqueiro no assento. Tenho um espasmo cerebral
e pergunto-me: ora, da última vez que fiz isto, creio que isqueiros não eram
permitidos. Deixa cá perguntar à hospedeira: “excuzemi: is dis aláude? It uas
in mai sit” (isto é só para verem que eu até sou um tipo simpático e flexível
culturalmente).
Ela sorri em italiano, pega no
isqueiro e fica com ele. Depreendo que não, portanto!
Sentado, assisto ao fantástico
desporto olímpico do “Enfianço da mala no compartimento da dita” até ao grande
momento do embarque em que a italiana diz a um senhor que se queixava que o seu
lugar estava ocupado: “dis is not ior flaite, sâr”.
Ora cá está algo que antes da
pandemia não havia. Finalmente, uma diferença! Agora já se consegue passar por vários
controlos e entrar no avião errado. Pena foi que o lugar dele estivesse
ocupado, pois teria sido infinitamente mais divertida a viagem se ele só
descobrisse quando o piloto dissesse que a nossa rota para a Terceira seria
calma, etc e tal…já a 5000 pés de altitude!
Bem, lá abriram a porta da frente
de novo e empurraram o rapazola escada abaixo para aprender a não se meter onde
não era chamado!
É claro que este acontecimento
estragou todo o ritmo de operações da coisa e levou a que descolássemos com um
atraso significativo. Ao escrever estas linhas ainda não sei se isto quererá
dizer que não ouviremos a festa da Ryanair ao chegarmos dentro do horário, mas
espero sinceramente que não, pois aquilo é extremamente irritante.
Falando em irritante, será que
sou só eu que não percebo porque é obrigatório usar máscara no avião, mas
poder-se comer e beber à vontade num vôo de duas horas, sendo mesmo vendidas
lasanhas e derivados? Assim de repente parece-me só idiota, mas deve ser culpa
minha.
Felizmente o meu companheiro de
viagem é uma pessoa informada, pelo que vai de FFP2 colocada a ler o jornal e
não comprou nada para comer…hã…o que é isto? Uma banana? Ele vai comer uma
banana? Não aguenta duas horas sem comer a banana?
Bem, ao menos eu tenho uma FFP2,
pelo que nada cá entra…espera lá…mas cheira-me a banana…ai o caneco…mas não era
suposto nada aqui entrar? Para a próxima trago uma FFP3 ou o escafandro de
mergulho!!!
Agora a rapariga ao lado compra
um kit kat e uma água…estou feito…ninguém quer comer uma chispalhada, já agora?
Bem, isto está a começar a
descer, sinal que deve faltar pouco tempo para voltar a por os pés na região que
me viu crescer e me fez homem (dispensam-se as piadas sobre o facto de a região
ainda não ter acabado a tarefa).
Até já ilha dos bravos!!!