quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Regresso à ilha dos bravos

 


Por razões padrinhais decidi voltar a voar depois do início da pandemia. Pensei para mim: o que terá mudado na aviação? Nos comportamentos das pessoas quando viajam? Nos procedimentos das companhias?

Certamente que muito, pois o mundo não poderá voltar a ser o mesmo depois da pandemia, certo? Pois…

Decido partir para o meu destino na Ryanair. Ok, ok, caro leitor...eu sei que é começar logo a pedi-las, eu sei, mas tenha complacência e resiliência (só este último ponto afastou logo os médicos todos da leitura: “ten points”!).

A quem leu “ten points” com a voz do Eládio Clímaco posso desde já sugerir um exame à próstata se for do sexo masculino ou uma consulta pré-menopausa a quem for do sexo feminino. De nada!

Onde é que eu ia? Ah, a caminho da ilha dos bravos, mais conhecida por ilha Terceira. Se algum dos leitores não souber porque a ilha Terceira é a ilha dos bravos, não se preocupe. Quando a visitar grite a plenos pulmões à saída do aeroporto das Lajes que São Miguel é a melhor e mais bonita ilha dos Açores que rapidamente descobrirá!

Chego ao terminal 2 do aeroporto de Lisboa, mais comummente conhecido como o terminal dos enjeitados ou terminal das low-cost. Ok, terminal dos enjeitados fui eu que inventei agora, confesso! Contudo, conforme perceberão nas linhas seguintes, é um terminal “especial”!

O terminal 2 quando for crescido quer ser como o terminal 1, pelo que também tem um fast track para o raio-x. Neste caso, o fast track permite passar à frente de cinco pessoas e meia, pelo que o rácio custo/benefício é fantástico. Eu, sendo pobre e triste, não tinha fast track, pelo que segui directamente para o raio-x. Já a única pessoa que ia pelo fast track foi parada pelo segurança para confirmar se era portadora de bilhete fast-track, pelo que ficou somente not so fast track. Idiossincracias!

Primeira constatação: nada mudou no raio-x desde o início da pandemia. Os oficiais da coisa continuam entusiasmados com a sua profissão, não perdendo uma oportunidade de o demonstrar dizendo “neeext” sempre que a carneirada se atrasa.

A Ryanair mantém a sua política de separar o embarque por prioridade e não prioridade, pelo que aqui volta a haver segregação dos carneiros por carneiros de primeira e carneiros de segunda. Desta vez o vosso escriba aqui ficou colocado na categoria de carneiro de primeira, pelo que pode testemunhar o seguinte bem de perto.

A aeronave que nos transporta chega 40min antes da hora de partida. Ora, dará 40min para desembarcar os passageiros, reabastecer, limpar o avião, embarcar, fazer os procedimentos de segurança e descolar?

Primeiro ponto: desembarque. O dito cujo faz-se em cinco minutos. Três autocarros levam os desembarcados rapidamente, ficando o reabastecimento a decorrer.

Segundo ponto: limpeza do avião. As equipas precipitam-se para o interior do avião para proceder à desinfecção e limpeza….aaahhhhh….apanhei-o caro leitor…não existem equipas de limpeza, nem desinfecção do avião…quanto à “limpeza”, um saco preto de lixo ao início das escadas traseiras denuncia o “acto”.

Faço um pequeno parêntesis para abordar o fantástico tema de como passados dois anos ainda existem pessoas que não sabem usar uma máscara! E assim se explicam tantas gravidezes indesejadas!!!

Terceiro ponto: passaram 12min entre a chegada do avião e eu estar a bordo dele. O restante embarque é feito em oito minutos…a carneirada ainda não é rápida o suficiente, pelo que a hospedeira italiana diz naquele inglês fantástico dos italianos: “Plize muve alongue de áile end teique ior sit as quickli as póssible”. Quem leu isto com sotaque do capitão Bertorelli do Allo Allo tem mesmo de marcar o seu exame à próstata ou etc, etc!

Continuação do segundo ponto: chegado ao meu lugar encontro um isqueiro no assento. Tenho um espasmo cerebral e pergunto-me: ora, da última vez que fiz isto, creio que isqueiros não eram permitidos. Deixa cá perguntar à hospedeira: “excuzemi: is dis aláude? It uas in mai sit” (isto é só para verem que eu até sou um tipo simpático e flexível culturalmente).

Ela sorri em italiano, pega no isqueiro e fica com ele. Depreendo que não, portanto!

Sentado, assisto ao fantástico desporto olímpico do “Enfianço da mala no compartimento da dita” até ao grande momento do embarque em que a italiana diz a um senhor que se queixava que o seu lugar estava ocupado: “dis is not ior flaite, sâr”.

Ora cá está algo que antes da pandemia não havia. Finalmente, uma diferença! Agora já se consegue passar por vários controlos e entrar no avião errado. Pena foi que o lugar dele estivesse ocupado, pois teria sido infinitamente mais divertida a viagem se ele só descobrisse quando o piloto dissesse que a nossa rota para a Terceira seria calma, etc e tal…já a 5000 pés de altitude!

Bem, lá abriram a porta da frente de novo e empurraram o rapazola escada abaixo para aprender a não se meter onde não era chamado!

É claro que este acontecimento estragou todo o ritmo de operações da coisa e levou a que descolássemos com um atraso significativo. Ao escrever estas linhas ainda não sei se isto quererá dizer que não ouviremos a festa da Ryanair ao chegarmos dentro do horário, mas espero sinceramente que não, pois aquilo é extremamente irritante.

Falando em irritante, será que sou só eu que não percebo porque é obrigatório usar máscara no avião, mas poder-se comer e beber à vontade num vôo de duas horas, sendo mesmo vendidas lasanhas e derivados? Assim de repente parece-me só idiota, mas deve ser culpa minha.

Felizmente o meu companheiro de viagem é uma pessoa informada, pelo que vai de FFP2 colocada a ler o jornal e não comprou nada para comer…hã…o que é isto? Uma banana? Ele vai comer uma banana? Não aguenta duas horas sem comer a banana?

Bem, ao menos eu tenho uma FFP2, pelo que nada cá entra…espera lá…mas cheira-me a banana…ai o caneco…mas não era suposto nada aqui entrar? Para a próxima trago uma FFP3 ou o escafandro de mergulho!!!

Agora a rapariga ao lado compra um kit kat e uma água…estou feito…ninguém quer comer uma chispalhada, já agora?

Bem, isto está a começar a descer, sinal que deve faltar pouco tempo para voltar a por os pés na região que me viu crescer e me fez homem (dispensam-se as piadas sobre o facto de a região ainda não ter acabado a tarefa).

Até já ilha dos bravos!!!

 


2 comentários:

  1. Olá Paulo,

    gostei muito da tua aventura! Já sei que tenho que marcar um daqueles exames desagradáveis. Espero não ficar a falar como o capitão Bartorelli, ou pior ainda, como o Officer Crabtree...

    Espero que a viagem de regresso tenha uma crónica ainda mais divertida!

    Um abraço,

    Gonçalo

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  2. Olá Gonçalo! Se ficasses a falar como o Gruber seria pior ;) Grande abraço!

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