Estou feliz! Estou feliz porque, ao receber esta peça, percebi a verdadeira razão porque decidi tentar adquiri-la.
Em 1982 chegou ao nosso país, era eu um miúdo, Sven-Goran Eriksson. Com ele chegou uma maneira nova de olhar o futebol, mas muito mais do que isso.
Cresci a ouvir o quão belo era o futebol praticado pelo Benfica de Eriksson, mas nunca pude ver essa beleza de arte na relva pessoalmente senão quando do seu regresso ao futebol português no ano de 1989. Nessa altura assistia no antigo terceiro anel do Estádio da Luz às exibições de grandes jogadores como Bento, Ricardo Gomes, Valdo, Schwarz, Thern, Paneira, Rui Águas, Diamantino, Vata e muitos outros, mas acima de tudo o que via era uma maneira de estar no futebol e na vida que me marcou e isso muito se deve a Eriksson.
Calmo, elegante e sempre um cavalheiro, Eriksson mostrou que era possível derrotar quem achava que os fins justificavam os meios, quem com violência, incitação ao ódio, à ameaça e ao uso de corpos de mulheres como pagamento de actos de corrupção acumulava “troféus” e “vitórias”.
Eriksson mostrou que, não somente era possível vencer, mas que acima de tudo era possível vencer com princípios, educação e correcção. Para um adolescente que, como todos os adolescentes, procurava modelos na vida, Eriksson foi um modelo de enorme importância e só agora o percebi na plenitude.
Quando vi as peças que iam a leilão após a sua morte, a maioria era obviamente dos seus sucessos desportivos pelo mundo, da sua vida como homem do desporto, mas ao ver esta peça que o comemorou como pessoa que contribuiu para a memória das vítimas do Holocausto, não tive dúvidas que era esta a peça que fazia sentido tentar adquirir.
A peça do Homem que Eriksson foi e do que realmente o define. Se fiquei imensamente feliz quando venci o leilão da dita peça, recebê-la foi um misto de emoções pela constatação táctil da tristeza da perda precoce de Eriksson, a qual pertence a todo um colectivo que o admirava, mas acima de tudo pela alegria com que constato que uma parte do homem que sou, também o devo a Eriksson pelo exemplo vivo que sempre constituiu para mim o seu modo de estar na vida.
Enquanto nos lembrarmos do seu legado humano, Eriksson estará bem vivo e essa é a maior “peça” que ele nos poderia deixar.
Obrigado “Svennis”, obrigado!
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