Neste blog partilho pensamentos e estados de espírito. Por isso mesmo não tem nenhum estilo ou motivo, é tão somente o que por vezes penso e sinto e que decido partilhar convosco. Pode ser visto, talvez, como uma viagem por mim próprio. Espero que me acompanhem e que gostem de por cá andar :)
terça-feira, 21 de junho de 2016
Retalhos da vida de um médico
Existem imensos motivos de consulta, dos mais complexos aos mais simples de resolver. Partilho hoje um dos mais interessantes inícios de consulta a que já assisti:
- Bom dia!
- Bom dia! (com cara de poucos amigos)
- Então como está a Carla (nome fictício) desde a última consulta?
- A Carla está na mesma...ou pior!!! (dito com cara de ainda menos amigos)
- Hum...tomou o que lhe passei da última vez? (há 2 meses atrás)
- Não!
- Então porquê?
- Porque perdi a receita!
- Ah...
sexta-feira, 10 de junho de 2016
It's a beautiful day
Acordo irritado por não conseguir dormir mais num feriado (apesar de ir fazer 12h de urgência mais tarde) e decido "organizar" a casa começando por apanhar do estendal o edredão que tinha lavado ontem à noite.
Assim que abro o cortinado um vazio: o estendal dá-me os bons dias completamente nú. Edredão nem vê-lo. Raios partam!!! Pus 6 molas no edredão e fi-lo passar por 2 arames!!!
Calço-me a correr (sim, sei que isto é literalmente impossível!) e desço as escadas na esperança de encontrar o edredão num canto ou até dentro das escadas recolhido por algum vizinho consciencioso. Nada!
Bolas! Era um edredão novo, penso. Antes de abrir a porta do prédio e entrar conformado com a perda decido ir ao café que fica duas portas ao lado perguntar à rapariga que lá trabalha (e que já uma vez tinha ficado com uma encomenda minha sem que eu sequer lhe tivesse pedido e sem que nunca lá tenha gasto um cêntimo) se, por acaso, alguém tinha visto um edredão perdido.
Diz-me que sim, que está dentro do prédio ao lado do meu e, enquanto serve o pequeno-almoço a uns clientes, empresta-me a chave do prédio em questão para que eu vá buscar o edredão.
quarta-feira, 8 de junho de 2016
O sentido da alma ou a alma sentida
Acabo de ver um episódio de
Through the Wormhole com Morgan Freeman. O tema é a consciência/alma. Vários
cientistas falam sobre as suas teorias e experiências.
A primeira apresentada é a teoria
quântica que defende que até no vazio existe conhecimento, que dentro dos
nossos cérebros existem micro-túbulos que permitem a ligação entre neurónios
que não estão directamente ligados por sinapses. Para os seguidores desta
teoria a alma existe para além do cérebro, pois a informação do que somos pode
ser transmitida para fora do nosso corpo, mesmo no vazio, pelo que quando morremos
não deixaremos de existir. A informação do que somos e sabemos é que poderá ser
“espalhada” pelo Universo.
A segunda teoria afirma que a
nossa consciência é um processo construtivo que acompanha o desenvolvimento do
cérebro desde o nosso nascimento até ao expoente máximo do nosso conhecimento.
Do mesmo modo que a consciência e alma se constroem com o conhecimento e a
sabedoria que adquirimos ao longo do tempo, também se dissipa quando perdemos
capacidades intelectuais, sendo a situação limite o estado demencial avançado
em que, segundo os autores da teoria, a alma já lá não mora, pois a consciência
deixou de existir. Não é difícil perceber que, segundo esta teoria, a alma
desaparece imediatamente com a morte. Após esse segundo os nossos amigos deixam
de existir, o mundo que conhecemos deixa de existir, os nossos afectos deixam
de existir, nós deixamos de existir. Ponto final!
A terceira teoria é uma teoria
relacional na medida em que nós somos o resultado das interacções ao longo da
nossa vida: de eventos e de pessoas. A nossa alma encontra-se espalhada por
todos com que contactámos, tal como cada um dos outros se encontra em nós.
Obviamente que quanto mais próximos de nós, mais nossos serão e vice-versa.
Creio que é pacífica a ideia de que estaremos vivos enquanto os que nos
amaram se lembrarem de nós, mas essa perpetuação da alma é de curta duração
geracional. Ou não será? Será que quando sentimos a angústia ou a tristeza em
Chopin não lhe estamos a conhecer estados de alma? E a euforia em Beethoven? E a ira em Wagner? Será a arte, a criação
artística, uma forma de perpetuarmos a nossa alma? Fazer um filho, escrever um
livro e plantar uma árvore (metaforicamente falando) serão a única maneira de sermos
perpétuos?
O programa acaba com a ideia de
que todos descobriremos em último caso se a nossa alma sobrevive ao nosso
corpo. Creio que quem escreveu esta última parte do guião não percebeu bem a
segunda teoria dita materialista: ao morrermos nem tempo teremos para
percebermos isso: simplesmente já não seremos.
É claro que sendo humanos temos
esperança. A esperança é a maneira que temos de não desesperarmos e entrarmos
em profunda depressão. Se já assim a Humanidade anda encharcada em
anti-depressivos, sem esperança já nos tínhamos extinguido. Quando o
conhecimento científico não nos fornece a resposta mudamos a nossa agulha da
esperança do que sabemos para aquilo em que acreditamos. E acreditar é algo que
todos fazemos por absoluta necessidade num momento ou noutro das nossas vidas.
A questão é se também o faremos na nossa morte: acreditar!
E tudo isto porquê? Por nada e
por tudo. Ao chegar a casa hoje, cansado e meio saturado, dou por mim a
cozinhar ao som de Simply Red. Uma
canção diz: “You’re so beautiful but oh so boring!” Não deixo de sorrir
ao ouvir a letra e uma sensação de felicidade pura e conceptual invade-me sem
saber bem porquê. Que alma é esta que me tocou de maneira tão primária? A
música em si não está ligada a nenhuma fase da minha vida que me faça recordar
essa alegria, mesmo que inconscientemente, ou assim penso. A letra é engraçada,
mas não o suficiente para me provocar essa sensação, pelo que a resposta deverá
estar algures dentro de mim. Ser simplesmente pode deixar-nos profundamente
felizes? Estarmos bem em nós e connosco num momento de recolhimento caseiro (a
fazer comida, algo tão básico e essencial!) enquanto ouvimos uma música pode
proporcionar uma felicidade assim tão intensa? Aparentemente a resposta é sim!
Para ser eu, para estar feliz,
para ter a alma prenha de alegria bastou libertar-me de tudo o que existe de
concreto no mundo e existir simplesmente. Se posso ser profundamente alegre sem
razão para tal, se não pela razão da minha existência despojada de estímulos
exteriores, então a minha alma existe para além deste momento e para além deste
corpo, pois a felicidade é um estado da mesma e, onde há um estado de algo,
esse algo conceptualmente existe.
É nisto que eu acredito hoje e
agora, pois sinto a minha alma. Amanhã será outro dia…para mim, para ti que lês
este texto e para o Universo. Como diria o Raúl Solnado: façam o favor de ser felizes, ao que eu acrescento: façam o favor de ser felizes os três!!!
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