quarta-feira, 8 de junho de 2016

O sentido da alma ou a alma sentida



Acabo de ver um episódio de Through the Wormhole com Morgan Freeman. O tema é a consciência/alma. Vários cientistas falam sobre as suas teorias e experiências.

A primeira apresentada é a teoria quântica que defende que até no vazio existe conhecimento, que dentro dos nossos cérebros existem micro-túbulos que permitem a ligação entre neurónios que não estão directamente ligados por sinapses. Para os seguidores desta teoria a alma existe para além do cérebro, pois a informação do que somos pode ser transmitida para fora do nosso corpo, mesmo no vazio, pelo que quando morremos não deixaremos de existir. A informação do que somos e sabemos é que poderá ser “espalhada” pelo Universo.

A segunda teoria afirma que a nossa consciência é um processo construtivo que acompanha o desenvolvimento do cérebro desde o nosso nascimento até ao expoente máximo do nosso conhecimento. Do mesmo modo que a consciência e alma se constroem com o conhecimento e a sabedoria que adquirimos ao longo do tempo, também se dissipa quando perdemos capacidades intelectuais, sendo a situação limite o estado demencial avançado em que, segundo os autores da teoria, a alma já lá não mora, pois a consciência deixou de existir. Não é difícil perceber que, segundo esta teoria, a alma desaparece imediatamente com a morte. Após esse segundo os nossos amigos deixam de existir, o mundo que conhecemos deixa de existir, os nossos afectos deixam de existir, nós deixamos de existir. Ponto final!

A terceira teoria é uma teoria relacional na medida em que nós somos o resultado das interacções ao longo da nossa vida: de eventos e de pessoas. A nossa alma encontra-se espalhada por todos com que contactámos, tal como cada um dos outros se encontra em nós. Obviamente que quanto mais próximos de nós, mais nossos serão e vice-versa. Creio que é pacífica a ideia de que estaremos vivos enquanto os que nos amaram se lembrarem de nós, mas essa perpetuação da alma é de curta duração geracional. Ou não será? Será que quando sentimos a angústia ou a tristeza em Chopin não lhe estamos a conhecer estados de alma? E a euforia em Beethoven? E a ira em Wagner? Será a arte, a criação artística, uma forma de perpetuarmos a nossa alma? Fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore (metaforicamente falando) serão a única maneira de sermos perpétuos?
O programa acaba com a ideia de que todos descobriremos em último caso se a nossa alma sobrevive ao nosso corpo. Creio que quem escreveu esta última parte do guião não percebeu bem a segunda teoria dita materialista: ao morrermos nem tempo teremos para percebermos isso: simplesmente já não seremos.

É claro que sendo humanos temos esperança. A esperança é a maneira que temos de não desesperarmos e entrarmos em profunda depressão. Se já assim a Humanidade anda encharcada em anti-depressivos, sem esperança já nos tínhamos extinguido. Quando o conhecimento científico não nos fornece a resposta mudamos a nossa agulha da esperança do que sabemos para aquilo em que acreditamos. E acreditar é algo que todos fazemos por absoluta necessidade num momento ou noutro das nossas vidas. A questão é se também o faremos na nossa morte: acreditar!

E tudo isto porquê? Por nada e por tudo. Ao chegar a casa hoje, cansado e meio saturado, dou por mim a cozinhar ao som de Simply Red. Uma canção diz: “You’re so beautiful but oh so boring!” Não deixo de sorrir ao ouvir a letra e uma sensação de felicidade pura e conceptual invade-me sem saber bem porquê. Que alma é esta que me tocou de maneira tão primária? A música em si não está ligada a nenhuma fase da minha vida que me faça recordar essa alegria, mesmo que inconscientemente, ou assim penso. A letra é engraçada, mas não o suficiente para me provocar essa sensação, pelo que a resposta deverá estar algures dentro de mim. Ser simplesmente pode deixar-nos profundamente felizes? Estarmos bem em nós e connosco num momento de recolhimento caseiro (a fazer comida, algo tão básico e essencial!) enquanto ouvimos uma música pode proporcionar uma felicidade assim tão intensa? Aparentemente a resposta é sim!

Para ser eu, para estar feliz, para ter a alma prenha de alegria bastou libertar-me de tudo o que existe de concreto no mundo e existir simplesmente. Se posso ser profundamente alegre sem razão para tal, se não pela razão da minha existência despojada de estímulos exteriores, então a minha alma existe para além deste momento e para além deste corpo, pois a felicidade é um estado da mesma e, onde há um estado de algo, esse algo conceptualmente existe.


É nisto que eu acredito hoje e agora, pois sinto a minha alma. Amanhã será outro dia…para mim, para ti que lês este texto e para o Universo. Como diria o Raúl Solnado: façam o favor de ser felizes, ao que eu acrescento: façam o favor de ser felizes os três!!!

1 comentário: