Acabo de ver um episódio de
Through the Wormhole com Morgan Freeman. O tema é a consciência/alma. Vários
cientistas falam sobre as suas teorias e experiências.
A primeira apresentada é a teoria
quântica que defende que até no vazio existe conhecimento, que dentro dos
nossos cérebros existem micro-túbulos que permitem a ligação entre neurónios
que não estão directamente ligados por sinapses. Para os seguidores desta
teoria a alma existe para além do cérebro, pois a informação do que somos pode
ser transmitida para fora do nosso corpo, mesmo no vazio, pelo que quando morremos
não deixaremos de existir. A informação do que somos e sabemos é que poderá ser
“espalhada” pelo Universo.
A segunda teoria afirma que a
nossa consciência é um processo construtivo que acompanha o desenvolvimento do
cérebro desde o nosso nascimento até ao expoente máximo do nosso conhecimento.
Do mesmo modo que a consciência e alma se constroem com o conhecimento e a
sabedoria que adquirimos ao longo do tempo, também se dissipa quando perdemos
capacidades intelectuais, sendo a situação limite o estado demencial avançado
em que, segundo os autores da teoria, a alma já lá não mora, pois a consciência
deixou de existir. Não é difícil perceber que, segundo esta teoria, a alma
desaparece imediatamente com a morte. Após esse segundo os nossos amigos deixam
de existir, o mundo que conhecemos deixa de existir, os nossos afectos deixam
de existir, nós deixamos de existir. Ponto final!
A terceira teoria é uma teoria
relacional na medida em que nós somos o resultado das interacções ao longo da
nossa vida: de eventos e de pessoas. A nossa alma encontra-se espalhada por
todos com que contactámos, tal como cada um dos outros se encontra em nós.
Obviamente que quanto mais próximos de nós, mais nossos serão e vice-versa.
Creio que é pacífica a ideia de que estaremos vivos enquanto os que nos
amaram se lembrarem de nós, mas essa perpetuação da alma é de curta duração
geracional. Ou não será? Será que quando sentimos a angústia ou a tristeza em
Chopin não lhe estamos a conhecer estados de alma? E a euforia em Beethoven? E a ira em Wagner? Será a arte, a criação
artística, uma forma de perpetuarmos a nossa alma? Fazer um filho, escrever um
livro e plantar uma árvore (metaforicamente falando) serão a única maneira de sermos
perpétuos?
O programa acaba com a ideia de
que todos descobriremos em último caso se a nossa alma sobrevive ao nosso
corpo. Creio que quem escreveu esta última parte do guião não percebeu bem a
segunda teoria dita materialista: ao morrermos nem tempo teremos para
percebermos isso: simplesmente já não seremos.
É claro que sendo humanos temos
esperança. A esperança é a maneira que temos de não desesperarmos e entrarmos
em profunda depressão. Se já assim a Humanidade anda encharcada em
anti-depressivos, sem esperança já nos tínhamos extinguido. Quando o
conhecimento científico não nos fornece a resposta mudamos a nossa agulha da
esperança do que sabemos para aquilo em que acreditamos. E acreditar é algo que
todos fazemos por absoluta necessidade num momento ou noutro das nossas vidas.
A questão é se também o faremos na nossa morte: acreditar!
E tudo isto porquê? Por nada e
por tudo. Ao chegar a casa hoje, cansado e meio saturado, dou por mim a
cozinhar ao som de Simply Red. Uma
canção diz: “You’re so beautiful but oh so boring!” Não deixo de sorrir
ao ouvir a letra e uma sensação de felicidade pura e conceptual invade-me sem
saber bem porquê. Que alma é esta que me tocou de maneira tão primária? A
música em si não está ligada a nenhuma fase da minha vida que me faça recordar
essa alegria, mesmo que inconscientemente, ou assim penso. A letra é engraçada,
mas não o suficiente para me provocar essa sensação, pelo que a resposta deverá
estar algures dentro de mim. Ser simplesmente pode deixar-nos profundamente
felizes? Estarmos bem em nós e connosco num momento de recolhimento caseiro (a
fazer comida, algo tão básico e essencial!) enquanto ouvimos uma música pode
proporcionar uma felicidade assim tão intensa? Aparentemente a resposta é sim!
Para ser eu, para estar feliz,
para ter a alma prenha de alegria bastou libertar-me de tudo o que existe de
concreto no mundo e existir simplesmente. Se posso ser profundamente alegre sem
razão para tal, se não pela razão da minha existência despojada de estímulos
exteriores, então a minha alma existe para além deste momento e para além deste
corpo, pois a felicidade é um estado da mesma e, onde há um estado de algo,
esse algo conceptualmente existe.
É nisto que eu acredito hoje e
agora, pois sinto a minha alma. Amanhã será outro dia…para mim, para ti que lês
este texto e para o Universo. Como diria o Raúl Solnado: façam o favor de ser felizes, ao que eu acrescento: façam o favor de ser felizes os três!!!
Adorei...
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