Recentemente chegou ao meu
conhecimento um livro sobre violência doméstica onde no preâmbulo a autora
diz que este crime não tem sexo, ou seja, ambos os sexos podem ser
vítimas. Contudo, após esta introdução, passa a usar constantemente a figura
da mulher como vítima e do marido como agressor. Após ter lido o livro em
questão, comecei a notar então que sempre que se fala de violência doméstica
nos meios de comunicação social a linguagem é a mesma. Isto fez-me pensar que
algo está muito mal nesta abordagem, e por vários motivos.
Em primeiro lugar, porque começa
logo por esquecer as relações homossexuais onde a violência doméstica é, no
mínimo, igual à das relações heterossexuais, se não superior (http://www.northwestern.edu/newscenter/stories/2014/09/domestic-violence-likely-more-frequent-for-same-sex-couples.html).
Em segundo lugar, porque cria um
estigma sobre os homens que sofrem deste tipo de abuso, que, como sabemos, não
é somente físico. Um homem nesta situação não se revê nas mensagens de apoio à
vítima que por aí grassam (façam uma pesquisa no Google por violência doméstica
e vejam que imagens estão associadas). É
também precisa uma grande dose de coragem para se ir a uma esquadra referir que
se é vítima de violência doméstica sendo mulher. Sendo homem é preciso uma
dupla coragem, pois o medo de se ser gozado por não se ser homem o suficiente
não deixará de estar presente. Sim, porque no inconsciente de todos nós essa
imagem é transmitida ao fazer sempre do homem agressor e da mulher vítima.
Estar no “outro papel” passa a não ser suposto!
Falei de duas minorias: a dos
homossexuais e a dos homens heterossexuais vítimas de violência doméstica. Ao
fazerem-se somente campanhas para se defender/apoiar/proteger um tipo de
vítimas está-se, no fundo, e a meu ver, a promover os crimes sobre todos os
outros. Como se um crime de discriminação sobre um "preto" fosse pior/diferente
do que sobre um "gordo" ou sobre um "caixa-de-óculos".
Todos os crimes são crimes, ponto.
Todas as intolerâncias à diferença, as faltas de respeito sobre os indivíduos são
iguais. Não há nenhuma minoria que precise de ser defendida: porque o mesmo
indivíduo faz parte de uma minoria para alguns crimes, mas fará parte de uma
maioria para outro. Mil e uma associações de protecção àquela e à outra minoria
são a estratégia errada no combate a tudo o que queremos erradicar da
sociedade.
O que precisamos neste mundo é de
incutir respeito pela diferença, valorização da mesma. Não defendermos esta ou
aquela minoria, mas antes celebrarmos todo e qualquer ser humano, pois todos
somos minoria e maioria.
Enquanto biólogo falo muitas vezes sobre a importância da preservação da biodiversidade e de como ela é
fundamental para o nosso planeta. Creio que há
algo que está muito em falta no ensino que temos hoje em dia: o ensino da
valorização da “antropodiversidade”. Sem esse trabalho feito logo na raíz da
construção do indivíduo, tudo o resto serão pensos rápidos numa ferida profunda.
Como diria o Professor Von Vollensteen em The
Power of One: “Inclusion, not exclusion, is the key to survival!".
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