A espera é sempre um processo angustiante, mesmo quando a espera é expectável - Será que ele viria a horas como ela desejava? – A dúvida era legítima, pois não seria a primeira vez que tal lhe aconteceria, ter de esperar mais do que gostava. Contudo, algo lhe dizia que desta vez seria diferente. Estava longe de ser o primeiro por quem esperava na sua vida, afinal.
Este breve pensamento fê-la
recuar anos para a sua primeira vez. Sentia-se temerosa e excitada na altura.
Lembrava-se bem de como o chão tremeu. A memória não a traía,
especialmente a ela que a tinha bem treinada. O seu trabalho como tradutora
simultânea era um excelente exercício mental que a ajudava a manter uma atenção
a todos os pormenores, a tudo o que poderia ser ou não importante. Não se podia queixar da vida afinal. Após ter terminado o seu curso rapidamente arranjou trabalho e, apesar de estar longe dos seus, a vida sorria-lhe.
Voltou a olhar para o relógio,
mas o mesmo parecia não andar. Deu por si a viajar no tempo de novo. Na sua
primeira vez tudo tinha sido tão rápido que mal tinha tido tempo para saborear
a viagem que ele lhe tinha proporcionado: viagem de sensações, de odores, de
tremores.
Ao longo destas suas três décadas
de vida já tinha alguma experiência para não se deixar ficar em ânsias, mas a
verdade é que os quinze minutos iniciais de espera prevista já se tinham convertido
no dobro. Será que ele viria a tempo? “Mas porque é que será que eu
tenho de ser assim?”. Já se começava a irritar com esta sua maneira impaciente
de ser. Ela não era assim na terra beirã que a viu nascer, por que se
transformou neste bicho stressado desde que foi viver para Lisboa?
A impaciência já a tinha feito
perder algumas coisas na vida. Desta vez não deitaria tudo a perder. Iria ficar
ali onde era "suposto". Nada de mudanças de planos à última da hora!
E sim, já os tinha tido de vários
tipos na sua vida: elegantes, modernos, sofisticados, mas também clássicos,
conservadores, algo antiquados até. Contudo, a vida é feita disto mesmo, não é?
De experiências, de vivências, de esperas, de encontros, de desencontros. “Tudo
é vida, lembra-te disso.” Olhou para o seu smartphone de
última geração: nada! Suspirou...
Ela não gostava de não ter
alternativas. Considerava-se uma mulher do séc. XXI onde não há lugar para frustrações
deste género. Nesse momento pensou em ir-se embora, afinal opções não lhe
faltavam.
Voltou a olhar para o horizonte
em vão. Bem, creio que vinte minutos de atraso chegam. Não espero mais!
Decidiu voltar costas e ir embora.
Poderia não ser a mesma coisa e não era. O entusiasmo, o tremor e a emoção que
sentia sempre que ele chegava seriam substituídos pela rotina, por aquilo que é certo, pela segurança,
mas a vida é feita de escolhas e a dela estava feita. Não pensaria mais nisso.
Ao caminhar rua fora pelo passeio de calçada, o qual fazia questão de fazer ecoar os seus tacões, ouviu ao
longe aquilo que parecia ser ele e, num ápice, deu por si a correr para trás.
Sim, era mesmo! Ela sabia. Estava atrasado, mas afinal não lhe iria falhar. Ela
adorava comboios e, de todos, o intercidades era o seu preferido!!!
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