sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Vá para fora lá fora...mesmo!

Antes da era da fotografia digital era comum os amigos e familiares que iam de férias voltarem com rolos infindos de material (entre fotos e slides) que, após revelado, era mostrado de modo exaustivo e devidamente acompanhado de explicações sobre os locais e as sensações que tinham vivido.

Confesso que tais sessões eram tidas como reais fretes que fazíamos aos amigos e familiares viajantes, os quais não queriamos melindrar manifestando desinteresse, pelo que aguentávamos estoicamente tais sessões.

Contudo, olhando para trás, percebo que o que norteava essas sessões era o real desejo dos nossos amigos e familiares de partilharem os locais e as vivências, tentanto cativar-nos a visitar os locais que tinham visitado por serem tão agradáveis e fontes de experiências enriquecedoras, ou seja, o objecto das fotos era o destino e o que ele lhes tinha proporcionado, algo que eles queriam partilhar  e que desejavam para nós.

Hoje em dia estamos na era do Instagram/Facebook/etc onde rapidamente colocamos a nossa vida para que os nossos conhecidos, nos quais estarão alguns amigos, dela saibam e, de algum modo, façam parte. Ou não será assim?

Efectivamente, o que se constata é que deixámos de ver fotografias dos destinos, tentativas de captar em foto o que aquele ambiente nos está a transmitir e a cultura que se respira, mas antes fotografias dos amigos nos locais, normalmente em poses que tentam fazer da fotografia algo de original e apelativo, na maioria das vezes sem grande sucesso.

Não sei bem como dizer isto sem parecer indelicado para com os meus amigos e conhecidos, mas o que eu penso disso é o seguinte: o interessante do facto se ter ido a um destino exótico é o destino, não somos nós! O fascinante do Tibete não é o facto de termos lá estado (creio que uns milhões de pessoas por já lá passaram!!!), o fascinante do Tibete é o Tibete. Se nós achamos que ficamos bem em frente a um mosteiro budista, fantástico. Tiramos a foto e guardamos para nós. O mosteiro, isso é que é uma obra de arte e inspiração para reflexão...não nós.

Esta minha reflexão segue-se após uma semana em que estive doente, provavelmente o mais doente que já me senti na vida. Durante esta semana pude reflectir sobre várias coisas e uma delas é a velocidade imensa em que pensamos que vivemos hoje em dia, mas que é falsa na minha opinião. Nós andamos é demasiado focados em nós mesmos para percebermos que o mundo continua a girar à mesma velocidade que sempre girou. Neste frenesim em que nos deixamos levar deixamos de ter disponibilidade mental para percebermos que existe todo um mundo para além de nós, dos nossos interesses, dos nossos objectivos e dos nossos sucessos e fracassos. No fundo, que o mundo não gira à nossa volta!

A maior viagem que fazemos na vida é a nossa viagem interior, é certo, mas ela só poderá levar-nos a um lugar bonito se nos abrirmos ao que nos rodeia, a todo um mundo de locais, culturas, pessoas e pensamentos diferentes dos nossos. Se não o fizermos andaremos em círculos dentro de nós, mesmo que tenhamos umas "selfies" fascinantes!








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