O dia acorda solarengo e eu com
ele. A vista para a fortaleza que tenho do quarto permite-me ver o despertar da
zona. Bem cedo já algumas vendedoras ambulantes estão nos seus postos,
esperando os visitantes.
Saímos em direcção ao mausoléu de
Ismail Samani, um dos pontos “altos” da minha viagem do ponto de vista de personalidades
históricas tajiques.
Ismail Samani nasceu no século IX
na região de Báctria, região que hoje em dia está dividida entre o Tajiquistão,
o Uzbequistão, o Afeganistão, o Paquistão e a China, sendo o zoroastrismo a
religião que professava.
Durante o seu emirado, o território
por ele controlado expandiu-se enormemente chegando até ao actual Irão.
Contudo, ao contrário de Emir Timur, não era bárbaro, mas altamente justo e bom
para com os mais desfavorecidos. Bucara foi a capital do seu império e, tal era
a adoração que o povo lhe tinha, que, após a sua morte, a população insistiu
para que ao lado do seu mausoléu fosse construído um cemitério, pois queriam
ser enterrados ao lado do seu líder. Curiosamente, sobre esse cemitério
funciona agora um parque de diversões!
O seu nome dá nome à moeda oficial do Tajiquistão (o Somoni), sendo referido como um grande líder mais de 1000 anos após a sua morte, tal foi o legado emocional que deixou no seu povo. Impressionante!
O triângulo invertido sobre a porta significa que aqui estão sepultados homens, estando a planta do mausoléu desenhada nos dois quadrados ao lado do triângulo invertido. As quatro cúpulas significam os quatro símbolos do zoroastrismo: fogo, terra, ar e água.
No mesmo complexo encontra-se o mausoléu de Jó e um museu sobre a zona, onde destaco a explicação sobre as sardobas, os reservatórios de água enterrados ao longo da rota da seda com cerca de 15m de diâmetro e a uma profundidade de 10 a 15m.
Finalizada esta visita, deslocamo-nos ao mercado local cheio de vida ou não fosse domingo de manhã, altura de compras por muitas famílias. Existe a parte fora do edifício e a parte dentro do edifício, havendo a possibilidade de se comprar quase tudo o que se possa imaginar. Um vendedor de chá mistura várias ervas e tenta convencer-nos que a mistura é fantástica. O aroma é efectivamente agradável.
Finda a visita ao mercado, hora
de mais mausoléus…imensos. Estamos numa área muito importante para os
muçulmanos sufis, em especial para os seguidores de Baha al-Din al-Naqshbandi, pois também aqui se
encontra o seu mausoléu.
O sufismo é conhecido como a corrente mística e contemplativa do Islão, pelo que a atmosfera que se respira no local tem essas mesmíssimas características.
Como a hora das orações muda todos os dias durante o Ramadão, as mesquitas afixam as horas do dia em questão para os fiéis estarem devidamente informados.
De seguida, mais um táxi fast and furious e a grande surpresa do dia: uma pequena amostra de São Petersburgo em Bucara! Como? No palácio-museu do último Emir de Bucara, derrubado após a revolução bolchevique, o qual foi educado em São Petersburgo e construiu a sua residência em Bucara, fazendo jus ao espírito da cidade que o acolheu. O palácio museu tem obras de arte de várias partes do mundo e é efectivamente esplendoroso.
O final da manhã chega e visitamos Chor Minor, património mundial da UNESCO. Chor Minor significa quatro minaretes, tendo sido construído em 1817 por um comerciante turco, de seu nome Khalifa Niyaz Kul, com o objectivo que todos os viajantes pela rota da seda aqui pernoitassem para repousar. Quatro minaretes para representarem as quatro principais religiões, de modo a todos se sentirem em “casa”, pois havia um clérigo residente de cada uma delas : cristianismo, judaísmo, islamismo e budismo. Para um monumento património mundial da UNESCO, está estranhamente desprovido de turistas ou de estabelecimentos que o potenciem comercialmente. Bom!
Depois de tantas viagens de táxi e de caminhos percorridos, dou por mim num bairro típico, sem me aperceber que tinha voltado ao centro de Bucara e que o almoço esperava. A manhã tinha sido rica e longa, como todas as manhãs desde que aqui cheguei.
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