domingo, 17 de abril de 2022

Dia 6 de manhã - viagem para Childukhtaron/40 raparigas - 464km

Hoje começam as minhas deambulações pelo Tajiquistão. O percurso estimado é de 230km para cada lado, sem contar com desvios e afins. Escusado será dizer que a melhor expectativa possível será encontrar estradas de alcatrão de uma via para cada lado, pelo que uma rápida espreitadela ao googlemaps é perentória ao indicar 4h15 para cada lado, sem contar com as inúmeras paragens. 

Esta é a segunda lição do dia: aqui tudo está imensamente longe e a noção de ali ao lado ganha uma perspectiva que nem os alentejanos se aproximam!

Qual foi a primeira lição do dia, perguntam? Simples: trabalhar com um micro-ondas em russo para aquecer o leite!!! 

Entro no jipe que servirá de “casa” nos próximos dias, pois a verdade é que passarei mais tempo nele do que em qualquer outro lugar. Saímos então. O condutor, o Alishir, não fala bem inglês, mas fala o suficiente para perceber quando lhe peço para parar para tirar fotos…e eu peço muitas vezes, acreditem! Contudo, o que lhe falta em inglês sobra em simpatia, pelo que tudo está bem.

Percorridos os primeiros quilómetros e o cenário que encontro é de paisagem aberta, muitas vezes verdejantes, sempre com o complexo montanhoso com neve ao fundo. Passando algum tempo é tudo o que vejo e decido pedir ao Alishir para fazer a primeira paragem. Respiro fundo o ar das montanhas e oiço o cantar dos pássaros. Dizem-me que venho na altura mais bonita do ano…começo a acreditar que poderão ter razão.

De volta à estrada, aproximamo-nos de um túnel com 2800m que nos permite poupar 40min de caminho pelas montanhas. Este túnel não tem qualquer iluminação, pelo que só contamos com a iluminação do jipe. Naqbi rathlon é o seu nome e é uma das marcas do desenvolvimento do Tajiquistão. Nos próximos dias teria oportunidade de perceber a diferença que estes túneis fazem na vida e na economia do país.

Descendo a montanha, chego ao rio Vakhsh e é impossível não ficar emocionado com a paz com que percorre o vale. Os glaciares são os grandes fornecedores de água do país. Estando nós somente no início da primavera, o caudal ainda é muito pequeno comparado com o que será, segundo me dizem.

Depois de alguns breves momentos de inspiração profunda da ambiência, volto à estrada e volto a subir de novo. Em breve estou no topo da próxima montanha, onde posso apreciar a zona criada pela grande barragem de Nurek, construída pelo Tajiquistão e que deixou os vizinhos do Uzbequistão a reclamarem do corte da água do rio que segue para lá, como virei a confirmar na visita a Samarcanda. Na altura em que foi construída, em 1980, era a maior barragem do mundo com 300m de altura, só tendo perdido esse título em 2013.

Mais uns momentos para respirar a envolvência e continuamos. Passa meia hora, passa uma hora e a paisagem começa a mudar. O facto de nos afastarmos da bacia da barragem tem o seu impacto e a paisagem começa a ficar mais seca, altura em que começam a aparecer os inefáveis rebanhos, aos quais me passaria a acostumar como companheiros de viagem. Já os tive piores!


À medida que a estrada percorrida fica para trás, vou-me deparando com uma espécie de pórticos que indicam sempre que estou a entrar noutra região administrativa.

Estes pórticos podem ser maiores, podem estar somente ao lado da estrada, mas são sempre acompanhados posteriormente de outra característica muito tajiquistanesa: a paragem stop pelas autoridades policiais.

 


Na capital estão constantemente na estrada a mandar parar…e sempre equipados com pistola radar. Nem sempre é para multar, muitas vezes é para sensibilizar para o excesso de velocidade. Só no Uzbequistão viria a perceber a importância desta presença policial tão marcada!!!

Seguimos caminho e sucedem-se paisagens mil…deixo convosco algumas delas…as quarenta raparigas ainda teriam de esperar um pouco mais…










Chega a hora do almoço…é Ramadão e estamos no interior do país. A probabilidade de encontrarmos um restaurante aberto para almoçarmos não parece elevada, especialmente depois de descobrirmos que o único hotel da vil(Khovaling) está fechado.


Paramos para perguntar aos transeuntes onde poderemos almoçar e indicam-nos um restaurante. Entramos e perguntamos se nos podem servir algo. Estamos com sorte. Estão fechados, mas como receberam informação que um grupo grande se dirige para cá, estão a cozinhar e poderão servir-nos algo. Chilchanor é o nome do estabelecimento, o mesmo nome da região onde nos encontramos.

Comemos descansadamente num lindo salão uma refeição deliciosa e estamos prontos para continuar.




O meu coração e vista já iam bem preenchidos e ainda não tínhamos sequer chegado ao nosso destino…

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