Hoje começam as minhas
deambulações pelo Tajiquistão. O percurso estimado é de 230km para cada lado,
sem contar com desvios e afins. Escusado será dizer que a melhor expectativa
possível será encontrar estradas de alcatrão de uma via para cada lado, pelo que
uma rápida espreitadela ao googlemaps é perentória ao indicar 4h15 para cada
lado, sem contar com as inúmeras paragens.
Esta é a segunda lição do dia:
aqui tudo está imensamente longe e a noção de ali ao lado ganha uma perspectiva
que nem os alentejanos se aproximam!
Qual foi a primeira lição do dia, perguntam? Simples: trabalhar com um micro-ondas em russo para aquecer o leite!!!
Entro no jipe que servirá de “casa” nos próximos dias, pois a verdade é que passarei mais tempo nele do que em qualquer outro lugar. Saímos então. O condutor, o Alishir, não fala bem inglês, mas fala o suficiente para perceber quando lhe peço para parar para tirar fotos…e eu peço muitas vezes, acreditem! Contudo, o que lhe falta em inglês sobra em simpatia, pelo que tudo está bem.
Percorridos os primeiros
quilómetros e o cenário que encontro é de paisagem aberta, muitas vezes
verdejantes, sempre com o complexo montanhoso com neve ao fundo. Passando algum
tempo é tudo o que vejo e decido pedir ao Alishir para fazer a primeira
paragem. Respiro fundo o ar das montanhas e oiço o cantar dos pássaros.
Dizem-me que venho na altura mais bonita do ano…começo a acreditar que poderão
ter razão.
De volta à estrada, aproximamo-nos de um túnel com 2800m que nos permite poupar 40min de caminho pelas montanhas. Este túnel não tem qualquer iluminação, pelo que só contamos com a iluminação do jipe. Naqbi rathlon é o seu nome e é uma das marcas do desenvolvimento do Tajiquistão. Nos próximos dias teria oportunidade de perceber a diferença que estes túneis fazem na vida e na economia do país.
Descendo a montanha, chego ao rio Vakhsh e é impossível não
ficar emocionado com a paz com que percorre o vale. Os glaciares são os grandes
fornecedores de água do país. Estando nós somente no início da primavera, o
caudal ainda é muito pequeno comparado com o que será, segundo me dizem.
Depois de alguns breves momentos
de inspiração profunda da ambiência, volto à estrada e volto a subir de novo.
Em breve estou no topo da próxima montanha, onde posso apreciar a zona criada
pela grande barragem de Nurek, construída pelo Tajiquistão e que deixou os vizinhos do
Uzbequistão a reclamarem do corte da água do rio que segue para lá, como virei
a confirmar na visita a Samarcanda. Na altura em que foi construída, em 1980, era a maior barragem do mundo com 300m de altura, só tendo perdido esse título em 2013.
Mais uns momentos para respirar a envolvência e continuamos. Passa meia hora, passa uma hora e a paisagem começa a mudar. O facto de nos afastarmos da bacia da barragem tem o seu impacto e a paisagem começa a ficar mais seca, altura em que começam a aparecer os inefáveis rebanhos, aos quais me passaria a acostumar como companheiros de viagem. Já os tive piores!
À medida que a estrada percorrida
fica para trás, vou-me deparando com uma espécie de pórticos que indicam sempre
que estou a entrar noutra região administrativa.
Estes pórticos podem ser maiores,
podem estar somente ao lado da estrada, mas são sempre acompanhados
posteriormente de outra característica muito tajiquistanesa: a paragem stop
pelas autoridades policiais.
Na capital estão constantemente
na estrada a mandar parar…e sempre equipados com pistola radar. Nem sempre é
para multar, muitas vezes é para sensibilizar para o excesso de velocidade. Só
no Uzbequistão viria a perceber a importância desta presença policial tão
marcada!!!
Seguimos caminho e sucedem-se
paisagens mil…deixo convosco algumas delas…as quarenta raparigas ainda teriam de esperar um
pouco mais…
Chega a hora do almoço…é Ramadão e estamos no interior do país. A probabilidade de encontrarmos um restaurante aberto para almoçarmos não parece elevada, especialmente depois de descobrirmos que o único hotel da vila (Khovaling) está fechado.
Paramos para perguntar aos
transeuntes onde poderemos almoçar e indicam-nos um restaurante. Entramos e
perguntamos se nos podem servir algo. Estamos com sorte. Estão fechados, mas
como receberam informação que um grupo grande se dirige para cá, estão a
cozinhar e poderão servir-nos algo. Chilchanor é o nome do estabelecimento, o
mesmo nome da região onde nos encontramos.
Comemos descansadamente num lindo salão uma refeição deliciosa e estamos prontos para continuar.
O meu coração e vista já iam bem
preenchidos e ainda não tínhamos sequer chegado ao nosso destino…
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