Hoje o dia começa às 09.30, hora
a que me encontro com o Lochin, guia na cidade de Samarcanda, cidade com uma
história riquíssima, parte da Rota da Seda.
Se o cansaço da véspera não foi
todo dissipado pela (curta) noite de descanso, a perspectiva de não me sentar
num jipe durante uns dias anima-me. Por estes dias só andarei de táxi, a pé e
de comboio. Bem menos cansativo, não vos parece? Pois, obviamente que não…era
só pensamento mágico mesmo!
Como estou no Uzbequistão, tenho
de ir trocar alguns dos dólares que levei por Som, a moeda local.
O Lochin acompanha-me ao banco, onde tiramos uma senha e esperamos. Chegada a minha vez, vejo a cotação…ena…tanto? Pois bem, após ter trocado 200$, recebo literalmente uma pilha de massa: cerca de 2 milhões e tal de Soms.
Escusado será dizer que não há carteira
que comporte tal coisa, pelo que passei a parecer um traficante sempre que queria comprar algo!
- Oh, isto não é nada.
Antigamente, antes da reformulação da moeda local, as pessoas tinham de trazer
um carro carregado de sacos de notas para comprar um carro!
Fico a pensar como as pessoas
fariam para comprar o seu primeiro carro e decido não perguntar.
Seguimos para a praça de Emir Timur (Timerlão em Português), governante de uma área significativa da Ásia no século XIV (da actual Turquia à Ìndia e Rússia). Em Samarcanda está uma das três estátuas dele no Uzbequistão. Como belo mongol que era, era extremamente brutal nas suas campanhas militares, mas também um excelente estratega. Consta que usava xadrez para criar novas estratégias. Quem quiser ler um pouco sobre ele como eu fiz, descobrirá atrocidades monstruosas que contrastam enormemente com a beleza e paz do seu mausoléu!
Apreciador de poesia, filosofia e artes, poupava os melhores artesãos dos territórios que conquistava, deportando-os para Samarcanda, onde ficavam confinados a trabalhar até ao final dos seus dias. Samarcanda tem tanto de belo, como de brutal na génese das suas belezas. O Império Timúrida não resistiu à sua morte.
Daqui partimos para o seu mausoléu, que fica perto. Ao chegarmos ao museu grande azáfama: várias escolas estão a visitar o complexo, pelo que a alegria é notória e audível. Muitas crianças vestidas com trajes tradicionais e alguns rapazes com barbas pintadas, imagino que imitando o “visitado”.
O primeiro pormenor que me chama a atenção é uma das portas, profusamente trabalhada e lindíssima.
O mausoléu foi mandado construir
dois anos antes da sua morte para o seu neto que faleceu. Seria o seu herdeiro
ao trono, pois dos quatro filhos, dois tinham morrido, um tinha ficado aleijado
na sequência de um acidente a cavalo e o quarto era religioso e com pouca
propensão para assuntos de estado. O mausoléu demorou vinte anos a ser
construído, pelo que nunca chegou a ver a sua obra concluída.
Nele repousam o Emir, o referido neto e dois filhos, para além de outros membros da família.
É um edifício efectivamente
belíssimo!
Seguidamente dirigimo-nos para a
Praça de Reguistão, que fica igualmente perto, altura em que o Lochin sugere que,
se é para experimentar o “plov” local, se calhar devemos ir já, pois temos de
apanhar um táxi para os subúrbios, onde o “plov” é melhor.
Nova aventura num “fast and
furious” Chevrolet local e chegamos ao restaurante fantástico que está fechado
ao almoço por ser Ramadão! Nesta altura o Lochin fica desapontado e decide
perguntar a um velhote que nos observava se existe algum outro sítio por perto.
Felizmente, havia.
O “plov” é um prato à base de arroz e legumes acompanhado de ovos de codorniz e borrego, havendo toda uma panóplia de acompanhamentos com que podemos misturar o dito cujo. O resultado: não voltou nada para trás!
Agora sim, estamos prontos para a Praça de Reguistão!
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